Pandemia
Centro de Epidemiologia da UFPel lidera estudo sobre novo coronavírus
Pesquisa irá apontar respostas como o percentual de infectados e a letalidade da doença no Estado
Um estudo liderado pelo Centro de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) deverá servir de base para tomada de decisões no combate ao novo coronavírus no Rio Grande do Sul. A partir da próxima quinta-feira as equipes estarão nas ruas, com o objetivo de responder três perguntas centrais: o percentual de infectados no Estado, a velocidade com que o vírus tem se espalhado e a letalidade da Covid-19.
Para poder ir em busca dos resultados, os pesquisadores irão dividir o território gaúcho nas mesmas oito regiões intermediárias definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Porto Alegre e região metropolitana, Pelotas, Santa Maria, Uruguaiana, Ijuí, Passo Fundo, Caxias e Santa Cruz do Sul/Lajeado. Um total de 18 mil pessoas serão entrevistadas e farão o teste rápido para o coronavírus, independentemente, de possuírem ou não os sintomas da doença.
A definição de quem participará do estudo será aleatória e seguirá recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). "Teremos uma amostra representativa, baseada em critérios científicos, que nos permitirá identificar a evolução do vírus, inclusive com informações de sexo, idade e nível socioeconômico dos infectados", enfatiza o reitor da UFPel e coordenador geral do projeto, Pedro Hallal.
O questionário está em fase final de elaboração. A pesquisa será desenvolvida através de parceria entre Governo do Estado, Universidade Federal de Pelotas e Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). A previsão é de que os dados sejam divulgados à medida que ocorram as saídas de campo, divididas em quatro momentos distintos - veja mais detalhes da metodologia no quadro.
"Faremos uma grande força tarefa. Não podemos demorar para apresentar os resultados. Este é um estudo científico, mas tem também caráter assistencial, já que será essencial para indicar a melhor forma de organização do sistema de saúde", reforça o reitor. A expectativa é de que a pesquisa também possa servir de referência para tomada de decisão em outros estados brasileiros, como em países que têm precisado enfrentar a transmissão rápida - e, por vezes, descontrolada - do coronavírus.
O levantamento começo na próxima quinta-feira e se encerra em 14 de maio.
* Entenda melhor
- As saídas de campo: Serão realizadas em quatro datas diferentes, em um intervalo de 45 dias, para poder analisar a evolução quinzenal da prevalência de infectados no Rio Grande do Sul. O primeiro inquérito - com entrevista e teste rápido - está marcado para 2 de abril. As outras três saídas de campo estão agendadas para 16 e 30 de abril e para 14 de maio.
- Escolha aleatória: Em cada domicílio sorteado para compor a amostra será anotada a lista de moradores e, em novo sorteio, será definido um deles para participar do inquérito populacional. A pessoa deverá assinar termo de consentimento e receberá retorno sobre o resultado do exame. Em caso de teste positivo, o sistema municipal de saúde será notificado para adotar, então, todas as medidas de rastreamento e cuidados necessários.
- Total de participantes: Nas quatro coletas de dados serão entrevistadas 4,5 mil pessoas; 500 em cada uma das sete cidades do interior e mil na capital do Estado e região metropolitana. Ao final dos quatro dias de apuração, 18 mil cidadãos terão participado do estudo.
- Em busca de recursos: O orçamento está fechado: os custos podem chegar a R$ 1 milhão; R$ 900 mil investidos no pagamento das equipes que precisarão ir para as ruas e receberão o valor de 50,00 por questionário e teste rápido aplicado. O sistema é de mutirão. Para agilizar os resultados, em cada uma das empreitadas, todas as 4,5 mil residências serão visitadas em um único dia. É preciso colocar na balança, portanto, os gastos com combustível.
Neste momento, a fase é de contato com representantes da iniciativa privada. Caso os recursos não sejam obtidos, as universidades realizarão o estudo com o apoio de voluntários para as saídas de campo - sustenta o reitor da UFPel. Os kits de teste rápido serão liberados pelo Governo do Estado e itens como álcool gel e máscaras serão disponibilizados através da produção própria da UFPel. "Estamos em busca de apoiadores, mas não deixaremos de realizar o estudo por falta de verba", lembra Pedro Hallal, ao enfatizar que nenhum dos seis pesquisadores será remunerado para se envolver no estudo.
- Esforço conjunto: O trabalho é uma iniciativa do Governo do Estado, através da Secretaria de Saúde e da Vigilância Epidemiológica, em parceria com as instituições de ensino. Pelo Centro de Epidemiologia da UFPel, lideram o estudo os cientistas Cesar Victora, Pedro Hallal, Bernardo Horta, Aluisio Barros e Odir Dellagostin. Pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, a participação fica por conta da própria reitora, Lúcia Pellanda.
Ao longo do desenvolvimento do estudo, a expectativa é de que pesquisadores de outras instituições, como a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) também engrossem as equipes de análise e interpretação.
* Saiba mais
Desde a detecção do primeiro caso registrado na China, em final de 2019, o novo coronavírus tem se disseminado rapidamente pelo mundo. Em 30 de janeiro, a OMS classificou a doença como emergência de saúde internacional. Em 11 de março, aumentava o alerta: a Organização Mundial de Saúde passou a identificá-la como pandemia, com 118 mil casos em 114 países.
Apenas duas semanas depois, o total de infectados ultrapassa os 330 mil, espalhados em 196 países e territórios. O número de mortes assusta: já passa de 14 mil. Obter informações que possam contribuir em estratégias de prevenção e combate é fundamental. Daí a importância da pesquisa liderada pela UFPel.
"Não sabemos qual o grau de circulação do vírus da Covid-19, porque grande parte dos casos, em torno de 80% a 85%, têm sintomas leves ou mesmo não apresentam sintomas, embora contribuam para transmissão da doença", ressalta o responsável pela metodologia do estudo, o epidemiologista Aluisio Barros. "Vamos mostrar a real dimensão da Covid-19 no Estado e poder avaliar a trajetória de aumento do número de casos de infecção e óbitos".
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